Mês: abril 2016

Sobre epitáfios, despedidas e ciclos

Esse é meu último texto sobre você. Talvez nem devesse fazê-lo como um último texto, mas senti que deveria. Você que povoou já tantos textos, mais do que deveria, bem como significados de músicas, noites mal dormidas, dias que passei me perguntando o porquê. Esse é o seu epitáfio, não de verdade é claro, mas na minha vida sim. Não me interessam mais seus rumos, o que fez ou deixou de fazer, só restou o que marcou em mim, e ainda assim a cicatriz latente e pulsante já adquire um tom esbranquiçado, se disfarçando em meio a tantas outras. Aprendi, cai, chorei e cá estou gastando minhas últimas letras com você.

Em um clima misto de “foda-se você” com o clássico “espero que seja feliz”, marco aqui como o final da sua influência na minha vida, que aliás já deixou de ter há muito. Parando pra pensar, depois de muito amadurecer com tudo isso, e como se diz o amadurecimento não vem com a idade e sim com os danos, percebo que te amei. Sim, de maneira rápida e intensa, mas amei. E não você não merecia, nem a mais ínfima gota desse sentimento que a princípio achei que fosse correspondido, mas vã ilusão. Ilusão maior a que você vive em minha opinião, se fechar de tal forma a não ver o que está bem diante do seu nariz.

Não, não mais sentirei falta de detalhes já tão descritos e para ser sincero, já nem me lembro mais do seu cheiro. Porque o substitui por outro? Não, porque substitui por amor próprio e a consciência de que você não vale a pena. Te amar talvez tenha sido o sentimento mais fácil e rápido que já tive, assim como deixar de, foi o mais amargo e longo. Mas assim como o café, forte e amargo deixa de assim o ser por quem se habitua, para mim assim se fez tal sentimento. Se tornou insosso, nulo, aguado. O fel me fez mais forte, mais duro e insensível talvez, mas estou aqui, sobrevivi, passou.

Talvez a escolha da música possa soar estranha, dado seu romantismo, mas é que ela me remete a um filme que me é muito querido. Nele o amor e seus fins são retratados de maneira dolorosa, crua, e, portanto, realista. Em um dos diálogos um dos personagens é questionado se o amor o entedia, e o mesmo responde que na verdade ele o desaponta. Desaponta como fui desapontado, mas não acredito que seja essa sua única faceta, e bem como outra personagem questiona, porque o amor não é o bastante? Não foi o bastante pra você. Paciência. Não foi nem será minha última decepção. Nem o último amor. Termino esse texto não com tristeza ou angústia como já terminei tantos outros, mas sim com alívio.  Parafraseando Alice, só tenho a te dizer que não te amo mais. Adeus.

And so it’s, the colder water, the blower’s daughter, the pupil in denial

The Blower’s Daughter – Damien Rice