Sobre adultos, anos e silêncio

Esse texto, diferentes dos outros, não vem com uma música, não vem com um verso cantado ou mesmo com uma voz que traduza sentimentos em notas. Essa talvez seja uma forma de valorizar o silêncio e nossa voz interior. Essa que fala quando tudo se cala, que grita quando tudo é paz, que chora quando tudo sorri e vice-versa.

2017 foi um ano pesado, melhor que 2016 sem dúvidas foi um ano que certamente posso definir como um ano de ruptura, um ano de ecdise, um ano de amadurecimentos. Acredito que, ainda que jovem, dependente e muito ignorante perante quase tudo nessa vida, comecei de fato a vida adulta. As dores, as quebras de expectativas, as necessidades, um certo pessimismo de cunho realista e a quebra de idealizações.

Cheguei aqui querendo ser um grande médico, cirurgião, que pudesse salvar as pessoas com um bisturi e talvez que alimentasse um certo complexo de Deus que meu eu, outrora arrogante, nutria secretamente. Hoje em dia, já não mais almejo tais vôos. Não quer dizer que não queira mais voar ou mesmo que aquelas que almejam o que disse acima, sigam os mesmos motivos que eu segui. Só vejo agora que pretendo voar da minha maneira, de um jeito que se adapte a mim, e não da visão que os outros possam vir a ter de mim. Que a admiração não necessariamente venha de grandes feitos, mas sim de um serviço bem feito, correto, humano.

Os valores mudaram, as relações mudaram. O menino que pisou nesta cidade aos 19 anos acreditava num amor eterno, na necessidade de um relacionamento para felicidade ainda que dissesse aos outros que não buscassem isso para ser feliz. Não sabia quem eu era, não sabia muito menos quem queria ser nem o que me tornaria. Aprendi que pessoas não precisam ficar para sempre em nossas vidas para serem especiais, e que mesmo que elas fiquem não precisa ser do mesmo jeito que entraram. Que amor, não se vê como necessariamente a manutenção eterna de uma relação, mas às vezes um adeus pelo benefício de ambos. Aprendi que é preciso ouvir, mas não só esse “ouvir” que é bonito dizer e que encaixa num belo verso ou numa frase de autoajuda. Mas sim o se colocar ali para o outro, estar ali não por tabela ou não porque é o melhor a se fazer, mas por querer.

Foi um ano difícil, indubitavelmente, mas talvez porque eu tenha sido uma pessoa difícil de sustentar por tanto tempo. Aprendi a pedir ajuda, aprendi a cair e me levantar tantas vezes, que os joelhos ralados e broncas se tornaram mera lembrança perante as faces salgadas e pulmões afoitos por ar. Aprendi a ser mais aberto, e que por isso, não necessariamente levaria mais golpes mas que também viriam mais abraços, viriam mais vozes que o chamam de “amigo” , viria mais amor gratuito, desse assim, de graça que surge as vezes numa oportunidade única, numa mão estendida que pode ser crucial pro outro e tão bobo para você. E aprendi principalmente a me respeitar, me dar meu espaço, me tratar da maneira como deve ser, como eu aguento. Ligar cada vez menos pra opinião alheia quanto a viver a minha verdade, no entanto, respeitar e entender, uma vez que as verdades nunca são iguais entre as pessoas. Aprendi por fim, que nunca faltam coisas pra aprender, que adultos, passam essa ideia, de segurança, de bem-estar, de plenitude, mas que a plenitude de verdade está em entender tudo isso. Aprendi, sigo aprendendo e que nunca deixe de aprender, aprender de verdade, a viver.

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